terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Não apenas casas velhas...

Muitas vezes, quando visito uma cidade, uma colônia ou fazenda antiga, e chamo atenção para a beleza sua paisagem e de suas edificações, vem em resposta um comentário de desprezo: "Ah! Essa casa velha, caindo aos pedaços! Daqui a dois meses vou demolir pra fazer uma garagem." ou "aqueles morros que tinha ali eu aplainei pra construir um aviário. As árvores eu cortei e usei a madeira. Aquele "esgoto" (riacho) eu canalizei porque tinha mau cheiro. Não servia de nada, era feio."

Muitas pessoas, por falta de instrução ou de informação tendem a valorizar apenas aquilo que é novo ou que vem de fora. Eu pergunto: Por que valorizar as construções do Vaticano, as pequenas cidades da Itália os inúmeros patrimônios arquitetônicos da Europa? Por que valorizar pedras lascadas por humanóides de milênios atrás ou pirâmides construídas para enterrar ou assassinar pessoas? Por que valorizar paisagens antigas com ruínas de antigas civilizações? Será que esses monumentos tem valor apenas pela sua antiguidade ou pelos materiais preciosos com que foram construídos?

Eles tem valor, na verdade, pela importância que tiveram para seu próprio povo, que os conservou, algumas vezes, por milênios, para que estrangeiros que não valorizam essas "velharias" um dia viessem depredá-los.
Se na Europa e em muitos outros lugares que conservam suas tradições, os monumentos continuam existindo, é porque o seu próprio povo o valorizou e o protegeu. O que teria acontecido caso eles tivessem se comportado como a nossa sociedade? Se tivessem destruído as pirâmides ou as ruínas romanas?

"Andiamo vedere il bucco" - Pantheon, em Roma
Cristiane Bertoco, 2007
Toma-se o exemplo de uma das maiores construções romanas, hoje, uma das maravilhas do mundo - o Coliseu. Surgiu como um anfiteatro onde havia lutas de gladiadores e se jogavam prisioneiros para serem comidos pelos leões. Era o maior equipamento de lazer de Roma. Após a sua decadência, durante a Idade Média, foi usado como fonte de matéria prima para as novas construções. Mas o edifício era tão grande e tão imponente que mesmo com a destruição de parte de sua estrutura está ainda lá, para nos lembrar dos feitos de heróis, das injustiças religiosas e da miséria da idade média.
Coliseu, uma das maravilhas do mundo, na Itália
Cristiane Bertoco, 2007

Imagine agora se destruirmos todos os nossos casarios, as nossas paisagens, os nossos monumentos. Seremos vistos como um povo sem história e sem tecnologia. Ou talvez até imaginem que nossa terra não era povoada por uma civilização inteligente, dada a falta de registros históricos. 
Cantina Strapazzon, parreirais e "meda", em Bento Gonçalves
Cristiane Bertoco, 2008

Preservemos então as nossas "casas velhas", as estrebarias, os parreirais característicos de nossa região, que contam a história de nossas famílias, de nosso povo que tanto sofreu para que tivéssemos hoje trabalho e conforto nas cidades que eles fundaram. Se preservarmos a história que nós mesmos fizemos, manteremos nossa identidade e e um dia, talvez, seremos estudados como parte da história da humanidade.

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