sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Novo álbum Lorenzo Jovanotti & Racionalidade x Irracionalidade do Trabalho Criativo

Encontrei um vídeo com a entrevista sobre o novo album do artista italiano Lorenzo Jovanotti Cherubini. Entre as coisas muito interessantes que ele fala, uma me chamou muita atenção, e acredito que deve ser isso mesmo:

"O impulso é sempre emotivo e intuitivo. O inicial. Depois sim, há muito trabalho, de avaliação, essas coisas, porém sempre tudo nasce de um impulso irracional. Até mesmo para mim. É feito uns 99 % de racionalidade, mas esses 99% não valem absolutamente nada se não tem aquele 1% de irracionalidade, che governa tudo. Que torna bonita a canção, a torna mágica, a torna cativante." (Jovanotti).
Acredito que seja mesmo isso, na declamação, na poesia, na música, na arte e também na arquitetura e em outras formas de trabalho. O que seria de nós se não houvesse aquele 1% de magia que nos faz levantar todo dia da cama e trabalhar, defender um trabalho, uma idéia?
Na arquitetura esse 1% é aquilo que torna o espaço bonito, o edifício interessante, o sonho do cliente realizado... E é aquilo que nos faz ter prazer em nossa profissão, pois o resto do trabalho é o trabalho braçal de desenhar o projeto, escrever um memorial, elaborar um orçamento ou correr atrás de financiamentos e registros na prefeitura, CREA, órgãos ambientais, etc.
Também o de fiscalizar uma obra e muitas vezes (acredite!!!) de mostrar ao pedreiro como queremos que seja executada alguma coisa que ele não entendeu (com as nossas próprias mãos). Tive uma professora que uma vez botou a mão na massa (e nos tijolos!), para mostrar à sua mão de obra como queria que fosse executada uma parede de tijolos a vista.

Segue o vídeo. Para quem não o conhece, vale a dica de um trabalho bastante diferente e atual. Além disso, ele gosta muito do Brasil, passa algum tempo aqui, e gravou musicas como "Fango" no parque de Foz do Iguaçu e o album "Safari" no Rio de Janeiro.
Em suas músicas, ele fala muito sobre as cidades e a relação do elemento humano nelas, além de relacionar seus temas com situações atuais. Como ele diz na entrevista, a ele "emociona aquilo que nasce", belezas naturais, coisas do presente e do futuro.
Eu diria que é uma música quase filosófica, antropomórfica.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Não apenas casas velhas...

Muitas vezes, quando visito uma cidade, uma colônia ou fazenda antiga, e chamo atenção para a beleza sua paisagem e de suas edificações, vem em resposta um comentário de desprezo: "Ah! Essa casa velha, caindo aos pedaços! Daqui a dois meses vou demolir pra fazer uma garagem." ou "aqueles morros que tinha ali eu aplainei pra construir um aviário. As árvores eu cortei e usei a madeira. Aquele "esgoto" (riacho) eu canalizei porque tinha mau cheiro. Não servia de nada, era feio."

Muitas pessoas, por falta de instrução ou de informação tendem a valorizar apenas aquilo que é novo ou que vem de fora. Eu pergunto: Por que valorizar as construções do Vaticano, as pequenas cidades da Itália os inúmeros patrimônios arquitetônicos da Europa? Por que valorizar pedras lascadas por humanóides de milênios atrás ou pirâmides construídas para enterrar ou assassinar pessoas? Por que valorizar paisagens antigas com ruínas de antigas civilizações? Será que esses monumentos tem valor apenas pela sua antiguidade ou pelos materiais preciosos com que foram construídos?

Eles tem valor, na verdade, pela importância que tiveram para seu próprio povo, que os conservou, algumas vezes, por milênios, para que estrangeiros que não valorizam essas "velharias" um dia viessem depredá-los.
Se na Europa e em muitos outros lugares que conservam suas tradições, os monumentos continuam existindo, é porque o seu próprio povo o valorizou e o protegeu. O que teria acontecido caso eles tivessem se comportado como a nossa sociedade? Se tivessem destruído as pirâmides ou as ruínas romanas?

"Andiamo vedere il bucco" - Pantheon, em Roma
Cristiane Bertoco, 2007
Toma-se o exemplo de uma das maiores construções romanas, hoje, uma das maravilhas do mundo - o Coliseu. Surgiu como um anfiteatro onde havia lutas de gladiadores e se jogavam prisioneiros para serem comidos pelos leões. Era o maior equipamento de lazer de Roma. Após a sua decadência, durante a Idade Média, foi usado como fonte de matéria prima para as novas construções. Mas o edifício era tão grande e tão imponente que mesmo com a destruição de parte de sua estrutura está ainda lá, para nos lembrar dos feitos de heróis, das injustiças religiosas e da miséria da idade média.
Coliseu, uma das maravilhas do mundo, na Itália
Cristiane Bertoco, 2007

Imagine agora se destruirmos todos os nossos casarios, as nossas paisagens, os nossos monumentos. Seremos vistos como um povo sem história e sem tecnologia. Ou talvez até imaginem que nossa terra não era povoada por uma civilização inteligente, dada a falta de registros históricos. 
Cantina Strapazzon, parreirais e "meda", em Bento Gonçalves
Cristiane Bertoco, 2008

Preservemos então as nossas "casas velhas", as estrebarias, os parreirais característicos de nossa região, que contam a história de nossas famílias, de nosso povo que tanto sofreu para que tivéssemos hoje trabalho e conforto nas cidades que eles fundaram. Se preservarmos a história que nós mesmos fizemos, manteremos nossa identidade e e um dia, talvez, seremos estudados como parte da história da humanidade.